Crescimento nas matrículas de alunos com autismo é um avanço. Mas o que vem depois?

Matrículas de alunos com autismo crescem 44,4% em um ano segundo o INEP.


Índice

  • Introdução
  • O que dizem os dados oficiais?
  • Destaques do Censo Escolar 2024
  • Por que esse aumento nas matrículas de alunos com TEA?
  • Educação inclusiva: não basta só matricular
  • Mais inclusão em classes comuns: o que isso significa?
  • Desafios que ainda precisamos enfrentar
  • O que precisamos fazer agora?
  • Conclusão

Nos últimos anos, muito tem se falado sobre inclusão nas escolas. Mas agora temos dados concretos que mostram que o Brasil está, de fato, caminhando nessa direção. Segundo o Censo Escolar 2024, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) neste mês de abril, o número de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados na educação básica aumentou 44,4% em apenas um ano.

Isso significa que passamos de 636 mil alunos com autismo em 2023 para mais de 918 mil em 2024. Um salto importante — e necessário.

O que dizem os dados oficiais?

O Censo Escolar é a fonte mais completa e confiável de informações sobre a educação básica no Brasil. Coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ele é realizado todos os anos em colaboração com as secretarias municipais e estaduais de educação, abrangendo todas as escolas públicas e privadas do país.

Esse levantamento não apenas contabiliza o número de matrículas, mas também traz dados detalhados sobre infraestrutura, recursos pedagógicos, formação de professores e inclusão escolar. Ou seja, ele revela como está a realidade da educação em cada canto do Brasil.

Além de ser uma ferramenta essencial para a formulação e o acompanhamento de políticas públicas, o Censo Escolar também orienta o repasse de recursos federais, como os do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), e ajuda a planejar o atendimento de alunos com necessidades específicas. É com base nesses dados que o país pode avaliar se está avançando na garantia do direito à educação de qualidade para todos — inclusive para crianças e jovens com deficiência ou transtornos do desenvolvimento.

Destaques do Censo 2024:

  • 44,4% de aumento nas matrículas de estudantes com TEA de 2023 a 2024.
  • A matrícula total da educação especial cresceu 17,2%, passando de 1,8 milhão para 2,1 milhões.
  • Desde 2020, a matrícula na educação especial aumentou 58,7%.
  • A inclusão em classes comuns (em vez de classes especiais) também avançou: passou de 93,2% (2020) para 95,7% (2024) entre alunos de 4 a 17 anos.

Esses dados são relevantes não apenas para o planejamento de políticas públicas, mas também para o repasse de recursos federais, como o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e a alocação de professores e salas de apoio.

Por que esse aumento?

O expressivo crescimento nas matrículas de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), registrado no Censo Escolar 2024, é resultado de uma combinação de fatores importantes — e todos apontam para avanços na forma como a sociedade e o sistema educacional enxergam o autismo.

De acordo com Carlos Eduardo Moreno, diretor de Estatísticas Educacionais do Inep, esse aumento está ligado, primeiramente, à melhoria na identificação e notificação dos casos pelas escolas. Com mais formação, informações acessíveis e protocolos claros, os profissionais da educação estão mais aptos a reconhecer os sinais do TEA e registrar corretamente esses dados no sistema.

Outro fator determinante é o aumento da conscientização entre as famílias. Muitas têm buscado avaliação e diagnóstico mais cedo, reconhecendo a importância da intervenção precoce para o desenvolvimento das crianças. O acesso ampliado a profissionais da saúde, somado ao debate mais aberto sobre o autismo na sociedade, tem levado a uma maior procura por serviços educacionais inclusivos.

Além disso, o Ministério da Educação (MEC) vem implementando medidas para fortalecer a estrutura de apoio às escolas. Um dos destaques é a expansão das salas de recursos multifuncionais, ambientes preparados para oferecer atendimento educacional especializado (AEE) no contraturno escolar. Essas salas funcionam como espaços complementares ao ensino regular, onde os alunos com TEA e outras necessidades educacionais específicas recebem suporte individualizado ou em pequenos grupos, com foco na sua autonomia e no acesso pleno ao currículo.

Essas iniciativas mostram que o aumento nas matrículas não é apenas reflexo de uma maior demanda, mas também de um sistema educacional mais atento, informado e estruturado para acolher as diferenças.

A inclusão está, de fato, acontecendo?

Educação inclusiva: não basta só matricular

Mas aqui é importante fazer uma pausa: matrícula não é sinônimo de inclusão. Ter o nome do aluno registrado na escola é só o primeiro passo. O desafio real começa quando olhamos para dentro da sala de aula.

Será que esse aluno com TEA está aprendendo de verdade? Ele se sente acolhido? Os professores estão preparados para apoiá-lo? Há um mediador ou cuidador disponível, se necessário?

Infelizmente, muitas vezes a resposta ainda é “não”.

De acordo com organizações como o Todos Pela Educação e a Unicef, ainda faltam formação adequada para os professores, infraestrutura acessível e apoio especializado em muitas escolas, especialmente nas regiões mais vulneráveis do país.

Mais inclusão em classes comuns

Uma das notícias mais positivas do Censo Escolar 2024 é o aumento da inclusão de estudantes com deficiência e transtornos, como o autismo, em classes comuns — ou seja, em salas regulares, junto com os colegas sem deficiência.

Segundo os dados oficiais, 95,7% das crianças e adolescentes de 4 a 17 anos com necessidades educacionais especiais estão matriculados em classes regulares, um número que representa um avanço significativo em relação a 2020, quando o índice era de 93,2%. O ensino médio se destacou como a etapa com maior proporção de inclusão.

Esse dado representa mais do que uma estatística: mostra que o Brasil está, ainda que com desafios, caminhando para uma educação mais igualitária e inclusiva.

A convivência diária entre estudantes com e sem deficiência tem um valor formativo imenso. Para os alunos com transtorno do espectro autista (TEA), estar em uma turma regular pode significar maior acesso ao currículo comum, mais oportunidades de socialização e o desenvolvimento de habilidades que não se constroem isoladamente.

Mas o impacto vai além: toda a turma se beneficia. A presença de colegas com diferentes formas de ser e aprender estimula a empatia, o respeito às diferenças e a construção de uma cultura escolar mais humana, cooperativa e sensível à diversidade.

Em outras palavras, quando a inclusão é feita de verdade — com apoio, estrutura e formação adequada — todos ganham. A escola se transforma em um espaço onde cada estudante, com ou sem deficiência, pode aprender e crescer junto com os outros.

O que precisamos fazer agora?

Esse crescimento nas matrículas é uma vitória. Mas, como toda conquista, ela vem com responsabilidades.

Agora, é hora de:

  • Ampliar a formação dos professores para que eles se sintam preparados;
  • Garantir que todas as escolas tenham salas de recursos bem estruturadas;
  • Acompanhar não só se o aluno está na escola, mas se está aprendendo;
  • Ouvir as famílias e considerar suas experiências no processo educativo.

Mais do que um número, cada matrícula representa uma história, uma criança, uma família. E todas elas merecem o melhor da educação brasileira.

Fontes e referências:

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