O Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) de 2024 revelou um dado preocupante: quase três em cada dez brasileiros adultos enfrentam dificuldades graves de leitura e escrita consideradas essenciais para atividades do dia a dia.
O tema volta ao centro do debate público e reforça a necessidade urgente de avançar na alfabetização das crianças para mudar a realidade do país nas próximas décadas.
Índice
- O que diz a pesquisa do Inaf 2024?
- O que é o analfabetismo funcional?
- Alfabetização infantil: estágio crítico
- Por que alfabetizar as crianças pode mudar o Brasil?
- Exemplos internacionais
- Desafios nacionais e caminhos possíveis
- Próximos passos
- Fontes
O que diz a pesquisa do Inaf 2024?
Segundo dados do Inaf (Indicador de Analfabetismo Funcional), publicados em maio de 2025, 28% da população de 15 a 64 anos apresenta algum grau de analfabetismo funcional. Desses, 8% são considerados analfabetos absolutos, incapazes de ler ou escrever sequer pequenas frases, enquanto 20% conseguem decodificar palavras, mas não interpretá-las ou utilizá-las de maneira efetiva para compreender, resolver problemas e tomar decisões.
A pesquisa mostrou que, apesar de avanços pontuais nas últimas décadas, a estagnação dos números e as desigualdades persistentes entre regiões e classes sociais continuam sendo realidade.
O que é o analfabetismo funcional?
O analfabetismo funcional vai além da incapacidade de codificar informações. Indivíduos considerados analfabetos funcionais até reconhecem letras e palavras, mas não conseguem entender textos simples, interpretar informações em gráficos, bulas de medicamentos, placas de trânsito ou usar habilidades matemáticas básicas no dia a dia. O impacto atinge o acesso ao mercado de trabalho, à participação cidadã, à saúde e até mesmo às relações familiares.
Alfabetização infantil: estágio crítico
Especialistas são unânimes: a raiz do problema está nos primeiros anos da escolarização. Se a criança não está plenamente alfabetizada até o final do segundo ano do ensino fundamental, suas chances de se tornar um adulto funcionalmente analfabeto aumentam consideravelmente.
Barreiras como falta de infraestrutura escolar, deficiências na formação de professores, ausência de acompanhamento individualizado e vulnerabilidades sociais agravam a situação.
A alfabetização, nos anos iniciais, não se limita a ensinar o código escrito. Envolve o desenvolvimento da compreensão, da produção textual, do pensamento crítico e da capacidade de usar a leitura e a escrita para interagir com o mundo.
Por que alfabetizar as crianças pode mudar o Brasil?
Melhorar a alfabetização das crianças não gera apenas resultados educacionais; seu impacto ecoa por toda a sociedade. Crianças plenamente alfabetizadas têm melhores chances de sucesso escolar, progridem mais rápido entre séries e são menos suscetíveis à evasão.
Na vida adulta, os benefícios se multiplicam: mais oportunidades de emprego, aumento de renda, melhor acesso a serviços públicos e maior engajamento político e social.
Na perspectiva nacional, o avanço da alfabetização é fundamental para o desenvolvimento econômico. Países com níveis reduzidos de analfabetismo funcional têm força de trabalho mais qualificada e criativa, menor dependência de políticas assistenciais e maior potencial de inovação.
Uma população mais letrada eleva os índices de produtividade e torna o Brasil mais competitivo no cenário global, além de diminuir desigualdades e aumentar a justiça social.
Exemplos internacionais
Diversos casos internacionais mostram que a aposta na alfabetização infantil traz resultados concretos. Na Finlândia, uma das líderes mundiais em educação, a ênfase na leitura desde os primeiros anos e o forte investimento na formação docente resultaram em índices quase nulos de analfabetismo funcional entre adultos.
No Vietnã, políticas de alfabetização em larga escala para crianças impulsionaram, em menos de duas décadas, o desempenho dos estudantes em avaliações internacionais, aproximando o país de economias muito mais ricas.
Desafios nacionais e caminhos possíveis
O Brasil enfrenta desafios históricos que dificultam o avanço da alfabetização, desde desigualdades regionais marcantes até carências crônicas em infraestrutura escolar. Para superar isso, especialistas apontam algumas medidas fundamentais: priorizar a formação continuada de professores, garantir materiais didáticos adequados e acessíveis, investir em acompanhamento pedagógico individualizado, envolver famílias e comunidades e integrar tecnologia educacional de forma crítica.
Estratégias nacionais, como o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, apontam caminhos, mas sua consolidação exige vontade política, financiamento sustentado, transparência na gestão e articulação entre estados e municípios.
Próximos passos
O aumento do analfabetismo funcional é um alerta de que o Brasil precisa agir com urgência. Focar na alfabetização plena das crianças ainda nos primeiros anos escolares pode ser a chave para transformar a trajetória de milhões de brasileiros, promover justiça social e garantir um futuro mais próspero para o país. O desafio é grande, mas o retorno social, econômico e humano faz desse investimento uma prioridade inadiável.
Referências;
Instituto Paulo Montenegro & Ação Educativa. Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf). Últimos relatórios.
Relatórios internacionais da Unesco e OCDE sobre políticas de alfabetização.
Análises e entrevistas de pesquisadores de educação em veículos como Folha de S. Paulo, Estadão e G1 Educação (2024-2025).